terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Palestra - Conteúdo - A Intervenção do Arquitecto Alcino Soutinho no Museu Amadeo de Souza-Cardoso


Panfleto Realizado em Exclusivo para os Sócios do Clube
"História em Movimento"

Palestra - Conteúdo - A Intervenção de Alcino Soutinho no Museu Amadeo de Souza-Cardoso

A INTERVENÇÃO DE ALCINO SOUTINHO NO MUSEU AMADEO DE SOUZACARDOSO
Amarante 1973/1980

A apresentação foi iniciada com uma breve explicação do âmbito do trabalho, realizado para a disciplina de Espaço Público e Formas dos Equipamentos (4º ano da Faculdade).
A apresentação foi dividida nos seguintes pontos:

1. Inserção no contexto: O Museu Amadeo de Souza-Cardoso ocupa o antigo edifício do Convento de São Gonçalo. O Convento é uma obra do final do século XVI de traçado próprio e irrepetível em quatro séculos de história. Localiza-se no centro histórico da cidade de Amarante, fazendo parte integrante da imagem da cidade.
- A recuperação e adaptação do Convento ao espaço do Museu partiu de uma encomenda feita pela Câmara Municipal de Amarante ao Arquitecto Alcino Soutinho, arquitecto do Porto, tendo sido aluno e professor da mesma escola em que eu andei (Faculdade de Arquitectura do Porto).
- A cidade de Amarante, terra banhada pelo rio Tâmega que atravessa a cidade através de um vale cavado por si, é um dos maiores concelhos do distrito do Porto, situada no seu extremo oriental. Mantém o seu núcleo histórico bem solidificado, sobressaindo na imagem da cidade a cor e a textura do granito que domina as construções da época, mantendo-se a tradição. O centro histórico da cidade surge assim junto ao rio Tâmega, nas duas margens.
- Em todo o território, edifícios religiosos, de um enorme valor, foram surgindo de forma imponente e robusta. São Gonçalo, a Igreja e o seu Largo são as origens do povoamento da cidade e o seu centro. Todo o concelho foi crescendo em volta deste núcleo moldado pela história.
- O Convento de São Gonçalo é O edifício da cidade. A igreja do Convento é a imagem caracterizadora do perfil urbano e da paisagem da cidade.

2. História do Convento: No lugar mais central da cidade, surgiu o edifício do Convento imponente.
Convento surge mais de três séculos antes de Amarante ser cidade. É ele que polariza tudo o que a cidade tem de mais valioso. A sua volumetria domina a malha urbana sendo a partir dela que a cidade se distende.

3. Amadeo de Souza-Cardoso: A personagem de Amadeo nasce em 1887, em Manhufe, freguesia de Mancelos e surge para dar nome a este novo espaço da cidade, como grande pintor nacional e de referencia para a cidade.

4. O projecto de Soutinho: Em 1973, inicia-se um plano de obras no Convento, com projecto do Arquitecto Alcino Soutinho, incidindo em 2 fases. A primeira fase e mais importante, sobre a qual o estudo incidiu, é sobre o 2º claustro, a reposição do corpo de separação do 2º e 3º claustros e obras de adaptação do claustro ao museu. A reconstituição dos dois claustros foi a alteração mais significativa da recuperação/ adaptação do Convento. Os dois espaços encontravam-se desvirtuados devido à demolição de um anterior corpo que os separava. Mas as pessoas na cidade, algumas, nunca chegaram a conhecer este anterior corpo.
Numa 2ª fase, nos anos 80, ampliam-se os espaços destinados à Pintura e Escultura, e realiza-se um programa envolvendo as áreas de recepção, das exposições temporárias e das reservas da Biblioteca-Museu.
- Acesso: A fachada longa e branca revela bem a solidez do edifício. É a partir de um dos vãos que a compõem que acedemos ao interior. A entrada faz-se de frente para uma homenagem a Teixeira de Pascoaes. A entrada no edifício é feita por uma única porta situada no piso do r/chão, ao centro do edifício. É por este átrio de entrada que acedemos a todas as partes.
- Piso do Claustro: No átrio, localiza-se a recepção, bem como o acesso a uma pequena sala de exposições. O momento da entrada e o átrio são separados de nível através de 4 degraus, de forma a criar dois momentos distintos. Quando se sai do átrio pela porta imediatamente em frente deparamo-nos com um espaço a céu aberto, bem delimitado lateralmente por quatro fachadas. As fachadas Este / Oeste são quase simétricas, sendo a lógica a mesma. O r/chão é todo em pedra à vista, respeitando o ritmo de colunas. Os corredores de circulação por detrás delas é que variam na sua expressão. É por estes corredores de circulação que percorremos o espaço, podendo sempre, a qualquer momento admirar o edifício na sua totalidade no ponto central deste - no centro do claustro. Todo ele é delimitado por colunas em pedra, com excepção da fachada da autoria do arquitecto Alcino Soutinho pois só possuí uma meia coluna.
- Pelo corredor do corpo Sul, acede-se ao piso superior (piso 1), tendo, antes de subir o primeiro degrau, uma vista sobre o 1º claustro (claustro da Igreja). Sobem-se dois lanços de escadas até ao momento de entrar na porta da Varanda que nos levará até ao momento de entrada no interior do espaço das exposições. Há uma porta ao fundo. Entramos no interior.
- Proporção do Corte: Em corte é visível a proporção (relação altura e largura e respeito pelo existente) do claustro e do conjunto. Nesta nova ala, o arquitecto optou por, no piso superior, diminuir ao pé direito, sendo um piso quase como que familiar. Neste espaço mais rebaixado, da sala do Amadeo de Souza-Cardoso, a iluminação é feita por meio de clarabóias bastante inclinadas, conferindo uma maior dimensão ao edifício.
- A noção de conjunto, no último corte, onde aparecem os dois claustros, lado a lado, é evidente. É criada até quase uma ilusão de simetria.
- Piso do Museu (Interior): Este espaço, composto por três naves, deve ser entendido
longitudinalmente. Trata-se portanto de um percurso central ladeado por duas alas expositivas separadas por dois pórticos. O desenho destas peças atribui ritmo ao percurso pela variação da forma e dimensão dos vãos. Aberturas altas e estreitas alternam com vãos baixos e mais largos. Esta cadência atribui também qualidades específicas à relação transversal entre as duas alas expositivas. Deste modo, além de uma percepção longitudinal do espaço das alas, pode também perceber-se a formação de outras salas (transversais) definidas pelos vãos do pórtico principal.
- Corpo Novo: O aspecto mais marcante nesta obra é a reconstituição dos dois claustros. A construção de um novo volume, branco e imponente no conjunto arquitectónico existente repõe a primeira forma deste espaço. Esta nova estrutura, ao mesmo tempo que respeita a volumetria anterior, outrora existente, sugere um novo diálogo com a história, auxiliado por um desenho original, intimamente estimulado pelas préexistências.
Ao contrário do edifício do antigo Convento, todo construído em pedra e também desta forma
recuperado, o novo corpo é inteiramente construído em betão, com vãos em vidro e caixilharia de alumínio.
A intervenção do arquitecto resultou de uma interpretação subjectiva da obra.
- O arquitecto trabalhou a fachada da nova ala como um corpo novo que permite, em simultâneo, dois entendimentos do espaço, correspondentes às duas formas que este assumiu ao longo do tempo. O desenho desta fachada sugere as noções de fragmento e ruína. O grande plano branco fragmenta-se e quebra para mostrar o segundo claustro. Ao mesmo tempo, a “meia-coluna” é metáfora da noção de apoio, podendo também ser entendida como imagem romântica de uma ruína. As três fachadas que delimitam o claustro, no piso térreo, são constituídas por pórticos em pedra, já existentes no anterior Convento. O corpo branco faz como que uma continuidade às fachadas Este e Oeste do 1º piso. A coluna em pedra é colocada de forma metafórica, como uma não perda da identidade do lugar. A memória permanece. O novo volume está em balanço mantendo a ideia de galerias de circulação exteriores cobertas.
- O desenho do Pormenor: Tudo está pensado ao mais detalhado pormenor. Desde a coluna, ao candeeiro, ao puxador da porta, tudo foi desenhado para este espaço apenas.
- Todos os espaços são dominados pela cor branca e pela cor natural da própria pedra, desde a fachada ao pavimento exterior. As fachadas recuperadas do claustro, com o piso do r/chão em pedra e o piso superior pintado de branco evidenciam uma ordem natural. Sugere-se o elemento mais “pesado” em baixo, que suporta o plano branco mais leve. Os fustes e capitéis destruídos foram substituídos por novas peças com forma estilizada e abstracta. Em situações pontuais, são deixadas aberturas no reboco da parede para mostrar elementos do passado.

5. Uma obra posterior: Mercado do Carandá (Braga) de Souto de Moura: O grande plano branco permanece. A utilização de uma “meia-coluna” torna-se, da mesma forma, metáfora da noção de apoio, sendo também entendida, de forma romantizada, como uma ruína.
- É evidente e muito expressivo como, tal como no espaço do museu, antigo e novo dialogam lado a lado sem chocar o olhar.
- Sendo esta uma obra de 1980 poderá ter havido alguma influência do que acontece na fachada da ala nova do Museu de Soutinho.

Cláudia Queirós, arquitecta

A palestra decorreu no passado dia 14 de Janeiro e dela dei eco aqui.
Hoje é tempo de partilhar com os meus leitores as linhas mestras dessa mesma palestra, o conteúdo alvo de abordagem durante esse fim de tarde de uma sexta-feira, que, por certo, ficou na nossa memória para sempre.
Obrigada pelo cuidado e atenção, Cláudia!

Anabela Magalhães

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